domingo, 23 de janeiro de 2011

O silêncio e a busca espiritual do homem - Yogananda

   

A busca espiritual do homem não pode ser confundida com uma religiosidade moldada socialmente. Não é o bastante ter uma religião, conhecer seus preceitos e professar uma fé. A comunhão profunda com o Bem-Amado Cósmico dá-se a partir de uma verdadeira entrega, e uma disciplina cotidiana que privilegie o silêncio e o caminho do coração como a única via de acesso à voz silenciosa do Criador.
            A poderosa energia amorosa do Criador não está a serviço dos caprichos e desejos humanos, mas ao contrário, é necessário que se coloque a vontade a serviço dos profundos desígnios da alma, e neste esforço de busca e entrega será possível sentir o derramamento da Luz divina, impulsionando a alma para a sua realização. Os sinais que apontam para o caminho da autorealização são sutis, suaves, e não podem ser ouvidos em meio aos altos tons dos desejos, da acelerada maneira com que o homem descontroladamente deixa levar sua vida, entre os suntuosos desejos materiais ou na conversação fútil e maledicente. A voz divina é harmoniosa, amorosa, suave e se faz ouvir no silêncio, na entrega, no vazio. Aquele que não sabe silenciar não é capaz de ouvi-la. A primeira disciplina necessária é o cultivo do silêncio interior, que levará à prática da meditação, do esvaziamento no qual cada um é capaz de ser preenchido por este amor que é maior que o coração, que é maior que o desejo, que é maior que a vontade, que é a pura alegria energizando e reverberando por todos os campos da vida humana.
            A misericórdia divina é infinita sobre aqueles que se abrem para recebê-la. Não há causa passada ou efeito presente que não possa ser modificado pelo poder de uma vontade que se coloca a serviço da inteligência divina. O único e verdadeiro poder a que vocês realmente têm acesso é este: um amor infinito capaz de libertar a mente aprisionada em qualquer culpa, mágoa, dor, não-entendimento, em qualquer peso emocional que os impeça de seguir adiante, que os obstrua no caminho fabuloso de encontro com o Ser de Amor Eterno.  
            Muitos são os caminhos que prometem felicidade! Muitos estão gastando todo o seu precioso tempo a construir fortunas, a construir carreiras que acreditam “sólidas”, em busca de prazer e de distrações de todo o tipo, e o vazio de sentido continua presente nas almas destes distraídos buscadores. Há algo que eles desejam alcançar, mas que difusamente não percebem o que é...há algo que lhes falta, que condiciona suas almas a uma insatisfação contínua, a uma falta, que os leva a buscar novamente, incessantemente. Mas há uma Fonte de Água viva, sempre jorrando, sempre farta, que não é notada. Muitos interesses e distrações impedem que ela seja notada. São poucas as exigências que o Pai de Amor nos faz: aquiete-se, silencie, entregue seus falsos prazeres e poderes, e permita-se ser preenchido por esta onda silenciosa de alegria profunda e de um Amor cuja qualidade não pode ser encontrada no mundo exterior. Este Amor que suavemente alimenta nossas almas, colore a vida de sentido e bem aventurança.
            O silêncio interior – que inicialmente revela o tumulto em que cada um tem vivido – vai revelando, passo a passo, na disciplina daqueles que compreenderam o caminho, a mansidão que não se opõe a nada, que não manifesta aversão a nenhuma condição humana, a nenhuma provação, a nenhuma dificuldade; mas tudo aceita no Amor daquele que oferece as experiências, que as proporciona como aprendizado amoroso aos seus filhos amados.
            O silêncio é o bálsamo que muitos estão buscando para as turbulências da alma. Ele é pleno do amor divino, quando o homem persiste no caminho e na certeza de que encontrará este tesouro. O silêncio é porta que se abre para que cada um consiga enxergar para além das aparências, para além do mundo da manifestação, para além dos efeitos. O silêncio é o oceano que revela a face de Deus Pai/Mãe.
            A comunhão com Ele é o mergulho corajoso neste oceano, a entrega total do controle de sua vida, a rendição do ego (que é cheio de desejos) na permissão para que Ele – em sua infinita sabedoria e misericordiosa Vontade – possa desejar através de nós. Assim nos tornamos parte deste oceano de amor...assim nos tornaremos o próprio Amor.

            Na humildade da entrega ofereço o meu serviço,

            Paramahansa Yogananda

Recebida em 14.12.09, por Anna Patrícia C. Bogado

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